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Resiliência cobrada pela Petrobrás é afronta

Os deputados federais da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga irregularidades na Petrobras fazem uma visita técnica à sede da empresa no Rio (Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Mais uma vez, a direção da Petrobrás descumpre o Acordo Coletivo e sacrifica os trabalhadores com medidas desumanas no momento em que mais precisam da proteção da empresa. Os gestores negam-se a ouvir as entidades sindicais, mas querem resiliência da categoria diante de demissões, punições e cortes de direitos, enquanto a diretoria protege seus interesses, encaminhando, na surdina, para a Assembleia dos Acionistas proposta que triplica o teto de seus bônus.

As medidas que a Petrobrás anunciou ao mercado nesta quinta-feira, 26, foram comunicadas às federações de petroleiros pela manhã, em reunião por videoconferência, convocada às pressas na noite anterior. Um desrespeito às organizações sindicais, que, desde o início da pandemia do coronavírus, vêm cobrando negociação com a empresa de propostas para proteger os trabalhadores contra os efeitos da crise.

A FUP deixou claro que não aceitará participar de reuniões em que a Petrobrás comunica fatos consumados, decididos unilateralmente, sem qualquer diálogo social com os trabalhadores e à revelia dos fóruns de negociação assegurados pelo Acordo Coletivo.  É, no mínimo, leviano, a gestão cobrar dos petroleiros resiliência, quando a empresa impõe demissões e punições arbitrárias e se esquiva de qualquer responsabilidade com os trabalhadores terceirizados, entregues à própria sorte.

Para a sociedade, a Petrobrás faz um discurso de responsabilidade social, doa testes para o coronavírus, mas age de forma inversa com os trabalhadores, que continuam desprotegidos da pandemia e submetidos a situações absurdas, como clausuras de uma semana em quartos de hotéis antes dos embarques para as plataformas. Nas áreas industriais, os turneiros seguem expostos à contaminação e trabalhando em jornadas extenuantes.

Nós que lutemos?

Não bastassem esses absurdos, a gestão agora quer postergar o recolhimento do FGTS, o pagamento da gratificação de férias e das horas extras, além do cancelamento do avanço de nível e promoção dos trabalhadores que aderiram ao PCR, entre outras ações anunciadas em um pacote que inclui novos cortes de investimentos e hibernação de unidades.    

Quando o Brasil mais precisa de recursos e investimentos estatais, a gestão Castello Branco segue novamente na contramão, agindo da mesma forma insana que o governo Bolsonaro. Quer que os trabalhadores e a sociedade paguem pelos erros de uma gestão que reduziu a empresa mais robusta e estratégica do país a uma mera exportadora de óleo cru.

As privatizações e os cortes drásticos que as últimas gestões da Petrobrás realizaram comprometeram consideravelmente a capacidade da empresa e da indústria nacional para resistir às crises econômicas e às oscilações do preço do barril do petróleo.

Segundo levantamento feito pela Subseção do Dieese da FUP, entre 2003 e 2015, a Petrobrás investiu, em média, 28 bilhões de dólares por ano no Brasil. Entre 2016 e 2020, esses valores despencaram para uma média anual de 12,6 bilhões de dólares. Nas áreas sociais, os investimentos da empresa também foram reduzidos a mais da metade, despencando de uma média anual de R$ 498 milhões, entre 2003 e 2015, para R$ 203 milhões nos governos Temer e Bolsonaro.

A conta agora está batendo à porta da Petrobrás e do Brasil, quando o país mais precisa de estatais fortes para proteger a economia, os empregos e as áreas sociais.

É o Estado, estúpido!

 “É em momentos como este, que fica evidente a importância de um uma empresa integrada e de um Estado forte. Na crise de 2008, a Petrobrás contou com uma linha de crédito especial articulada pelo governo junto ao Banco do Brasil e à Caixa Econômica Federal. Por que a empresa não bate lá agora e pede dinheiro? O governo não deixa, né?”, questionou o coordenador da FUP, José Maria Rangel, ao gerente executivo da Petrobrás, Ricardo Besada Filho, que tentou justificar as medidas da empresa, usando como argumentos a atual crise do petróleo e a queda da demanda. 

Ao reduzir e abandonar setores estratégicos como refino, distribuição, fertilizantes, petroquímica e investimentos em fontes alternativas de energia, a Petrobrás deixou de ser uma empresa integrada. Os gestores desconsideraram o impacto da volatilidade dos preços do petróleo, deixando a empresa desprotegida em situações de crises.

A cada oscilação acentuada do mercado internacional, se confirmam os alertas feitos pela FUP e pelos pesquisadores do INEEP sobre os prejuízos a médio e a longo prazos que a Petrobrás amargaria com as escolhas que tomou. Se antes já estavam evidentes esses riscos, a crise atual comprova que vender refinarias, terminais, fábricas de fertilizantes, quebrando a sua integração, é um passo sem volta para a destruição da empresa.

A hora é dos petroleiros manterem a resiliência, sim, mas resistindo aos ataques do governo e da gestão da Petrobrás, que seguem na direção contrária das medidas que estão sendo tomadas no mundo. A crise vai ser longa e exigirá que a categoria continue mobilizada para não aceitar imposições de uma gestão, cujos interesses já conhecemos de cor.

“Durante a campanha sórdida que a empresa fez para implantar o PCR, a FUP e seus sindicatos alertaram para o que estaria por vir, se os trabalhadores aceitassem abrir mão de um plano de cargos construído coletivamente. Ficou provado que o individualismo só interessa à gestão da empresa”, afirma José Maria Rangel.  

A FUP continua aberta ao diálogo e orienta os trabalhadores a seguirem as recomendações dos sindicatos, em relação à pandemia do coronavírus e às medidas unilaterais anunciadas pela Petrobrás.

[FUP]

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