No início do mês de novembro, o mundo estava de olho na eleição presidencial dos Estados Unidos, onde o democrata Joe Biden obteve uma conquista histórica sobre o atual presidente do país, o republicano Donald Trump.
Uma data importante para vários segmentos, entre os quais, a indústria do petróleo. No início de outubro, quando o presidente Trump testou positivo para Covid-19, o preço do barril de petróleo acumulou duas semanas consecutivas de queda.
Além da preocupação com a instabilidade gerada por problemas de saúde do líder da maior potência mundial, a disputa presidencial americana trouxe dúvidas sobre os efeitos futuros no mercado global do petróleo.
De acordo com o coordenador técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), William Nozaki a queda no preço foi resultado da baixa demanda, decorrente do isolamento social.
As fortes quedas na demanda mundial pela commodity geraram uma redução significativa no preço e a isso se somam os indicadores da economia norte-americana que não deram demonstração de uma melhora consistente como se esperava. Entretanto, segundo William Nozaki, “Tanto Biden quanto Trump, sinalizaram em suas campanhas pacotes de auxílio para a indústria do petróleo em geral, ambos tentaram estabelecer um diálogo com as grandes majors”.
A indústria norte-americana tem um lobby tão intenso que apresenta as suas demandas para os dois partidos independente das suas ideologias ou dos seus projetos.
Não obstante, uma parte do partido democrata na campanha do Biden, sobretudo a ala mais à esquerda, ligada ao senador americano Bernie Sanders, apresentou dentro do programa eleitoral de governo propostas de discussão do Green New Deal (propostas para o enfrentamento das mudanças climáticas). Uma tentativa de construção de um novo Estado de bem-estar social, mas desta vez com uma perspectiva não só de preocupação com trabalho e renda, mas também com o meio ambiente, com sustentabilidade, com energias renováveis. Tal fato gera desconfiança e incertezas sobre a indústria petrolífera.
Mesmo com tal desconfiança, os preços do petróleo subiram, com o Brent superando US$ 40 o barril, após a vitória de Joe Biden.
Com relação aos efeitos da eleição na indústria petrolífera brasileira, Rodrigo Leão, coordenador técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), em entrevista ao Estadão destaca que: “Apesar da queda do preço do petróleo no primeiro semestre de 2020, os municípios e Estados produtores se beneficiaram da desvalorização cambial na pandemia. Com a eleição de Biden nos Estados Unidos, esse cenário de instabilidade cambial pode se agravar, dado o alinhamento automático do governo Bolsonaro a Trump, e pode acabar favorecendo municípios e Estados arrecadadores até o fim do ano”.
Do ponto de vista dos interesses estratégicos e econômicos que envolvem grandes setores industriais, como o setor do petróleo. Então, do ponto de vista econômico, dos interesses materiais, as duas candidaturas são equivalentes. Mas como o Trump representa os valores da barbárie, esta eleição de Joe Biden é melhor para os países vizinhos que estão no espectro da influência dos Estados Unidos. Não mudam os termos na disputa, mas mudam os termos do diálogo.