Vitória de Yamandú Orsi traz lições importantes para a esquerda brasileira
Nesse domingo, 24, o Uruguai voltou a eleger um presidente comprometido com as pautas históricas defendidas por trabalhadores e lutadores sociais. Com mais de 50% dos votos válidos, Yamandú Orsi foi eleito presidente pelo partido de Pepe Mujica, o extraordinário líder de esquerda, torturado e preso pela ditadura uruguaia e que se tornou um dos mais importantes presidentes da história do país.
Entretanto, por trás da vitória da esquerda, houve a necessidade de se repensar a forma como as ideias e os debates necessários para a emancipação e dignidade chegariam ao povo trabalhador. Há cinco anos, depois de quase duas décadas no poder, a Frente Ampla foi derrotada e os representantes do liberalismo e do mercado assumiram o poder no Uruguai. Além disso, a extrema-direita, representada pelo partido Cabildo Aberto, também rondou a política do nosso vizinho ao sul.
A Frente Ampla uruguaia é uma coalização composta por diversos grupos políticos que vão da centro-esquerda à esquerda. Apesar da diversidade, a unidade se confirmou como premissa e a autocrítica também foi ponto fundamental para conseguir se reerguer 5 anos depois da derrota para a direita liberal.
Assim, após uma grande discussão interna, a Frente Ampla tomou a decisão de se voltar para o trabalho de base e não rebaixar seu programa, caminhando ao centro, mas mantendo atualizado suas pautas à esquerda. Nos anos que se tornou oposição foram construídos cerca de 500 comitês de bairro para discussão e prática política por todo o país. Vale lembrar que o Uruguai possui uma população de cerca de 3,5 milhões de habitantes. Ou seja, um comitê para mais ou menos 70 mil uruguaios.
Dessa forma, a coalização que se define como populista, democrática, anti-oligárquica, anti-imperialista, antirracista e antipatriarcal, conseguiu retomar o diálogo com a população sem se render e mais do que isso, além de ter obtido um triunfo renovador para toda a esquerda latino-americana, influenciou no esmagamento da extrema-direita. Afinal, se em 2019, o Cabildo Aberto teve cerca de 11% dos votos, desta vez, apenas 2% dos eleitores uruguaios fiaram sua escolha no partido.
Portanto, mais do que nunca, a esquerda uruguaia nos mostra o quanto a autocrítica, o diálogo e o retorno às bases rendem resultados eleitorais e, mais do que isso, frutos sociais e políticos.