Por Eric Gil Dantas, economista do Ibeps
[PUBLICADO ORIGINALMENTE NOS SITES DOS SINDIPETROS SJC E LP]
A Petrobrás publicou na noite desta quinta-feira (07/08) seu resultado para o 2º trimestre de 2025, com lucro líquido de R$ 26,7 bilhões, acumulando assim um total de R$ 61,9 bilhões no primeiro semestre do ano, queda de 24% em relação ao trimestre anterior e aumento de 193% no semestre. O resultado é bastante positivo, principalmente por se tratar de um contexto mais desafiador, com um Brent de US$ 68 – bem abaixo dos US$ 85 da primeira metade do ano passado – e está relacionado à expansão produtiva da estatal.
Apesar do lucro líquido ter sido de R$ 26,7 bilhões, o mais exato para avaliarmos a empresa é falarmos do “lucro líquido sem eventos exclusivos” de R$ 23,2 bilhões para o trimestre e de R$ 46,8 bilhões para o semestre. Este número retira da conta do lucro líquido subtrações e adições meramente contábeis (Impairment e variação cambial, por exemplo) ou despesas extraordinárias (acordos tributários e mudanças futuras no plano de saúde dos funcionários). Com isto, tivemos um lucro líquido recorrente 0,7% inferior ao do trimestre passado e 15% inferior ao semestre passado.
Mas se o Brent em R$ caiu 13% e o preço dos derivados diminuiu 7% em relação ao trimestre anterior, o que fez a companhia manter os resultados relativamente estáveis? A Petrobrás aumentou em 5,4% a produção comercial de petróleo e gás neste trimestre, assim como aumentou em 1% as vendas de derivados (e aumento de 1,4% na produção de derivados). No que se refere à produção total operada, isto é, todo o volume de petróleo, gás natural e líquidos de gás natural (LGN) produzido nos campos em que a empresa é a operadora, independentemente de qual seja a participação acionária dela nesses campos, a estatal atingiu recorde de 4,19 MMboed, superando o recorde anterior do 4º trimestre de 2023.
Considerando a queda no preço dos produtos vendidos, mas com aumento na produção e venda, a receita de vendas da estatal caiu 3,3% no trimestre.
O fluxo de caixa operacional, o quanto a empresa gera de receitas com suas operações menos o que ela gasta, caiu 14% em relação ao trimestre anterior, ocasionado principalmente pela ausência de crédito tributário (no trimestre passado a Petrobrás se beneficiou de créditos oriundos da adesão ao programa tributário em 2024), e caiu 10% em relação ao mesmo trimestre do ano passado.
Já os Investimentos continuaram a crescer. Neste trimestre a Petrobrás investiu US$ 4,4 bilhões, 9% a mais do que o trimestre anterior. No 1º semestre, os investimentos já contabilizam US$ 8,5 bilhões, 32% superior ao mesmo período do ano passado. Este é o maior volume de investimentos para o primeiro semestre desde 2015 – quando a Petrobrás investiu US$ 12,2 bilhões.
Apesar de a grande parte dos investimentos serem para E&P (85% do total), também temos aumento dos investimentos no Refino, com crescimento de US$ 107 milhões (R$ 607 milhões) neste semestre, totalizando US$ 916 milhões. Estes investimentos estão possibilitando importante expansão da capacidade de refino da empresa – como o REVAMP da RNEST e o HDT da REPLAN.
No que se refere ao fluxo de caixa livre, o valor ficou em R$ 19,2 bilhões (queda de 26% se comparado ao trimestre anterior). Como a Petrobrás está aplicando sempre a regra de 45% do FCL para pagar dividendos, a companhia aprovou a distribuição de R$ 8,66 bilhões. Neste trimestre, sem os absurdos adicionais de dividendos extraordinários (o que ultrapassa a regra atual).
Em síntese, a estatal segue muito lucrativa, e mostrando que pode operar com preços menores do Brent sem um revés no resultado financeiro. A empresa segue em expansão, tanto na extração quanto no refino, o que também é bom. Para isto os investimentos estão sendo retomados em um volume considerável, com valores recordes para a última década. Por fim, o pagamento de dividendos segue como um problema, escoando quase metade dos recursos livres da companhia, ao mesmo tempo em que está se endividando para financiar os investimentos, o que não parece fazer sentido.