Sobrecarga física, emocional, quadros depressivos e situações de assédio moral e sexual. Esse foi o cenário encontrado pela equipe do projeto Trilhando Novos Rumos, desenvolvido pelo Instituto Casa Lilás, com trabalhadoras fabris.
Os relatos são de mulheres que estão no chão de fábrica de grandes empresas, que além de não receberem apoio psicológico durante a pandemia do coronavírus, são submetidas a violências de gênero cotidianas.
Mesmo assim, na atualidade, a identificação dos casos continua sendo um desafio. A perda da autoconfiança é outra consequência relatada com frequência, assim como um impacto negativo na performance profissional, a sensação de que seriam culpabilizadas pelo que aconteceu ou de que provocaram o episódio.
Além dos transtornos psicológicos, o projeto identificou problemas como o absenteísmo laboral, quando há falta de assiduidade sistemática no ambiente de trabalho. Às vezes, a pessoa até está no trabalho, mas, na verdade, não está, porque esse estresse gera a perda de produtividade. Ou seja, a empresa perde com isso também.
A diretora do Sindipetro Caxias, Andressa Delbons, acredita que vivemos tempos muito duros para as mulheres trabalhadoras. Principalmente as mais empobrecidas. “Além do apoio psicológico, é preciso desenvolver ações de combate à raiz desses problemas: o machismo estrutural. Enquanto você não bater na causa, vai conti- nuar tratando os sintomas. É necessário uma mudança de cultura, e para isso as empresas têm um papel fundamental. É necessário investir em cursos e treinamentos e incentivar práticas que assegurem um ambiente cada vez mais livre do machismo. Os empregadores precisam entender que isso é um investimento para evitar prejuízos às suas trabalhadoras e consequentemente a diminuição das suas capacidades laborais”, ressalta.
A desigualdade de gênero, representada desde a sobrecarga doméstica até a vivência de meninas e mulheres no mercado de trabalho, é um desafio tão grande que figura como um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas.
Em 2019, foi aprovada pela OIT (Organização Internacional do Trabalho) a Convenção 190 onde diz que, “são comportamentos e práticas inaceitáveis, ou ameaças, ocorridas apenas uma vez ou repetidamente, que objetivem, resultem ou possam resultar em prejuízos físicos, psicológicos, sexuais ou econômicos, incluindo assédio e violência baseado em gênero”.
Por maiores que pareçam os avanços, ainda há muito o que ser feito pelos direitos das mulheres em simplesmente poder trabalhar com dignidade, sem medo.
Só existe liderança pelo exemplo e, quando um país é representado por um político como o Jair Bolsonaro, que em seus discursos incita o ódio contra a mulher trabalhadora, só se pode esperar uma coisa: o aumento da violência contra mulheres. E a teoria se reflete na prática.
De acordo com um levantamento feito pela Central Única dos Trabalhadores, durante o período eleitoral (2018), mais de 70% dos casos de ameaças físicas e até de estupro foram relatados por mulheres vítimas de seguidores de Bolsonaro.
Mas infelizmente a realidade de violência contra as mulheres não é exclusividade do Brasil. Como diria Simone de Beauvoir, “basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados”. Como passamos por uma crise de abrangência mundial, em todo o mundo vemos relatos de direitos sendo ceifados, em especial das mulheres.
A direção do Sindipetro Caxias se solidariza com a luta das mulheres afegãs que hoje sofrem com o retrocesso de 20 anos de conquistas por direitos básicos, como frequentar a escola ou andar sozinha nas ruas. Com o golpe ocorrido na última semana, à medida que o Talibã assume o controle do país, o Afeganistão torna-se novamente um lugar extremamente perigoso para se ser mulher.
E de uma maneira genérica, a pauta de costumes do talibã é bem semelhante à dos bolsonaristas: rejeitar a ciência, ser contra a vacina, criar um Estado de caráter religioso, exibição de armas, desprezo pela democracia, discurso autoritário, ensino fundamentalista religioso em escolas, banir o aborto e tornar ilegal o casamento gay.
Vendo esse “futuro repetir o passado”, o Sindipetro Caxias está atento ao crescimento e fortalecimento do discurso machista na nossa sociedade e conclama as trabalhadoras da base a não se calarem em caso de assédio e violência.
Procure o sindicato e denuncie!
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