A economia neoliberal chilena, apresentada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, como um “modelo” para o Brasil, mostrou sua verdadeira face com os violentíssimos distúrbios, não só em Santiago como também em outras cidades, entre elas Valparaíso, Antofagasta e Viña de Mar, deixando mortos, feridos, entre civis e policiais, além da destruição de 41 estações de metrô.
O nível de conflito no Chile faz as manifestações do Brasil parecerem piqueniques de jovens. A razão detonadora foi o aumento do preço da passagem do metrô, mas é evidente que isso foi apenas estopim de uma crise econômica muito mais profunda e cujas sementes estão no mesmo tipo de política “ajustista” que se pretende aplicar no Brasil, visando à valorização dos ativos financeiros, através da deflação e da redução dos benefícios aos mais pobres, aumentando a parcela da economia reservada para a concentração de renda e riqueza. Tudo em nome do mercado.
As evidências de rachaduras no modelo chileno já vinham de longe. A qualidade da educação já vinha caindo há muito tempo. O modelo absurdo e fracassado de capitalização na previdência produziu legiões de idosos sem renda. Apenas mentes desligadas do mundo real podem propor o sistema de capitalização em países pobres.
O Chile, sob a capa de uma economia pequena e menos complexa, continua sendo um país pobre e com largas fissuras sociais.
O conflito sócio-político chileno que explodiu nas ruas de Santiago, resultando em um “toque de recolher”, mecanismo implantado pela primeira vez desde o fim do governo Pinochet, tal a violência das manifestações, teve sua prévia no mesmo tipo de conflito que ocorreu no Equador duas semanas atrás, provocado pelo aumento do preço dos combustíveis.
Todos eles são CONFLITOS RESULTANTES DE UMA IDEOLOGIA NEOLIBERAL NA ECONOMIA. Um modelo absolutamente em descompasso com a realidade de países emergentes, que necessitam de um Estado protetor eficiente e não devem contar com um modelo de “mercado resolve tudo “.
Como bem sabia o economista Milton Friedman, mal estudado e mal interpretado, o mercado pode fazer uma parte, mas não pode fazer tudo em países frágeis. É uma loucura completa pretender um projeto neoliberal em países carentes de ações básicas, que só o Estado pode realizar. Não se pode contar com o mítico “investidor” para fazer o que é função do Estado. Mas tem quem acha que pode.
Usar o Chile como modelo para o Brasil já demonstra pouca inteligencia, porque nada tem a ver a configuração geográfica, demográfica, produtiva, histórica de um País muito especializado, como é o Chile, com um grande País, um dos cinco maiores do mundo, como é o Brasil, que tem um contexto infinitamente mais complexo e incluindo outro tipo de inserção global.
Usar um modelo chileno para nossa economia já demonstra pobreza intelectual, que apela para simplificação de contextos complexos como saída fácil na ausência de melhores argumentos. O Chile está aí como prévia de onde leva o neoliberalismo dos pobres.
Publicado originalmente no jornal GGN