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Mulheres no comando!

Uma mulher no comando nacional de greve

Cibele Vieira não só participou da greve nacional petroleira que terminou recentemente como foi uma das pessoas que integrou o comando de greve ao ocupar, junto a outros quatro petroleiros, o edifício sede da Petrobras no Rio de Janeiro por 21 dias. Ao fazer parte da Comissão Permanente de Negociação, Cibele representou as mulheres petroleiras, as operárias e as sindicalistas.

Ela liderou uma greve vitoriosa que reverteu o esvaziamento do espaço negocial coletivo imposto aos trabalhadores pela nova gestão da Petrobrás, com o fato de que os representantes dos trabalhadores sentaram à mesa e esperaram a negociação, e desta maneira, a empresa se viu obrigada a conversar com os empregados. Mesmo que a negociação tenha acontecido por intermédio do Tribunal Superior do Trabalho.

Ao final desta greve intensa, que muitos da geração de Cibele nunca tinham passado, o saldo foi positivo, principalmente com relação às questões corporativas “ficou claro que através da luta vão se conseguindo as pequenas conquistas e dessas conquistas é possível acreditar na vitória”, com isso o enfrentamento acontece e o trabalhador passa a ser respeitado.

Sua história no movimento sindical tem base numa preocupação que carrega consigo desde a adolescência, que é pensar no outro e enfatizar sempre o interesse coletivo. Desde que entrou na Petrobras, Cibele sempre participou ativamente das reuniões do sindicato, mas só passou a fazer parte da diretoria depois de sete anos de empresa. Sua participação foi construída ao longo do tempo. Segundo ela, a maioria da categoria petroleira é de homens, hoje somos 16 %, e infelizmente nas direções sindicais, essa estatística é ainda menor.

Na Federação Única dos Petroleiros, houve avanço significativo na representação das mulheres, pela primeira vez nesta gestão são oito (entre titulares e suplentes) mulheres. Para Cibele, “infelizmente a gente ainda cresce dentro de uma cultura machista, de que a tomada de decisão não é das mulheres, mas felizmente isso tem sido cada vez mais questionado e a mudança comportamental é percebida como uma sociedade mais igualitária apesar dos ataques da onda conservadorismo que vivemos”.

O desafio de lutar contra o machismo que existe no meio sindical é importante. Há sem dúvida uma diferença de tratamento entre homens e mulheres, mas é preciso mostrar que isso não é mimimi, não é frescura e que manifestações de machismo acontecem até num ambiente onde as pessoas se respeitam.

Uma petroleira no CA da Petrobrás

Rosangela Buzanelli não é a primeira mulher a representar trabalhadoras e trabalhadores da Petrobrás no Conselho de Administração da empresa. Entretanto, sua eleição este ano é emblemática. Em um governo que desvaloriza e desrespeita as mulheres e vem promovendo o desmonte da companhia, vendendo ativos em diversas áreas e promovendo uma privatização da Petrobrás em partes, a escolha de Rosangela é símbolo não apenas de empoderamento feminino: representa também o desejo de petroleiras e petroleiros de ter uma Petrobrás pública e cada vez mais forte, retomando seu papel de vetor do desenvolvimento social e econômico brasileiro.

Com o lema “Reunir para Resistir”, Rosangela venceu o pleito em primeiro turno, recebendo 5.300 votos – 53,62% do total. Foi a primeira vez em que um representante dos trabalhadores da Petrobrás foi eleito em primeiro turno para o CA. O que se torna ainda mais representativo considerando que ela foi uma das duas únicas mulheres a concorrerem, numa lista de 21 candidatos.

Por ser diretora do Sindipetro-Norte Fluminense, Rosangela teve dificuldades em conversar com as pessoas em algumas bases da Petrobrás durante a campanha. Devido à histórica greve dos petroleiros em fevereiro – a maior desde 1995 –, seu crachá foi bloqueado e seu acesso impedido a algumas instalações da empresa.

Os percalços não desanimaram a engenheira geóloga de 60 anos, 33 deles dedicados à Petrobrás, como geofísica. O desafio de chegar ao CA foi maior, inclusive, que seus planos pessoais, que incluíam sua aposentadoria, pouco antes de ser convidada a integrar a chapa que venceu as eleições no Sindipetro-NF.

“Tenho compromisso com o coletivo desde jovem. Isso me fez adiar meus planos pessoais para contribuir com essa causa. Minhas principais motivações são o coletivo que está comigo e defender a Petrobrás, não poderia dizer ‘não’”, conta ela, explicando a importância do apoio da Federação Única dos Petroleiros (FUP) para sua decisão de concorrer ao CA da Petrobrás. “Pobre daquele que nunca experimentou a magia e a força do coletivo”, completa.
Rosangela Buzanelli é formada pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e tem mestrado em Sensoriamento Remoto pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Paulistana, ingressou na Petrobrás em 1987, quando se mudou para o Rio de Janeiro.

O trabalho como geofísica a levou a outras cidades do país, como Curitiba, no Paraná, e Macaé, no Norte Fluminense, onde mora desde 1997. Nos 33 anos de Petrobrás, Rosangela viveu experiências profissionais tanto na área operacional quanto na administrativa. Conheceu e conversou com trabalhadoras e trabalhadores de todos os níveis funcionais da empresa, o que lhe deu uma visão ampla das demandas de petroleiras e petroleiros da companhia.

Por isso, Rosangela faz questão de reforçar o caráter técnico e coletivo de seu mandato no Conselho de Administração da Petrobrás.
“Queremos marcar uma atuação bastante firme, com argumentos sólidos, baseados em estudos, fatos e dados, pelos direitos de petroleiras e petroleiros e por uma Petrobrás pública, forte, integrada e indutora do desenvolvimento social, econômico e tecnológico do Brasil. A missão é árdua, mas temos de ocupar esse assento para fazer o contraponto, trazer para esse fórum um olhar diferente da visão hegemônica que, baseado em estudos técnicos, provoque a reflexão de cada integrante do Conselho antes de votar”, detalha.

Outro ponto fundamental é garantir um trabalho com muita transparência, que dialogue com os trabalhadores e trabalhadoras. “Essa vitória é nossa, dos trabalhadores e trabalhadoras. Tenho o compromisso de defender a transparência, de defender a nossa Petrobrás e o corpo técnico da empresa. Vamos reunir para resistir”, lembra ela.

Vamos colocar o bloco na rua

Por Conceição de Maria Rosa, diretora de Formação do Sindipetro NF

Em 2020, aspiramos reconstruir a esperança para o feminino no Brasil. É hora de retomar o bloco na rua:

“Há quem diga que eu não sei de nada, Que eu não sou de nada e não peço desculpas. ”

Como colocar esse bloco na avenida? E como sobreviver num pais que em pleno século XXI presencia o machismo, o sexismo, a misoginia, o aumento do feminicídio e tantos outros ataques? É retrocesso que se fala?
No atual governo, sentimos isso na pele todos os dias. Somos descartadas e coisificadas para não termos visibilidade nos espaços de poder que já nos pertencem, por isso nos agridem com palavras de baixo calão e tentam nos intimidar para nos deixar submissas.

“Que eu perdi a boca, que eu fugi da briga, Que eu caí do galho e que não vi saída, Que eu morri de medo quando o pau quebrou.”

O pau quebrou mas avançamos nas participações em encontros, seminários, atos de rua, reuniões integradas e conferências, importantes para a participação da sociedade civil. As Conferências de Políticas para Mulheres foram relevantes nas três esferas, Municipal, Estadual e Federal. É a voz das mulheres que chega onde as politicas públicas se fazem, é a resposta social como resultado do acumulo de nossas lutas.
Como assumir os espaços de poder se nos são tirados todos os dias?

“…há quem diga que eu dormi de touca. Que eu perdi a boca, que eu fugi da briga…”

Não fugimos. No cenário atual, a Petrobras vem sendo atacada pelo desmonte e pela privatização, temos nos desdobrado para manter a empresa de pé em uma conjuntura que nos coloca frente a frente com os obstáculos: os desinvestimentos, as vendas de refinarias, as vendas de ativos, o patrimônio se dissolvendo a olhos vistos. Nunca se presenciou a desnacionalização do pais como agora. E no mês anterior, erguemos nossas bandeiras em greve nacional para que a batalha não fosse em vão, ocupamos a sede da empresa, estivemos na porta com nossas reivindicações e nas ruas em marcha.

“Eu, por mim, queria isso e aquilo. Um quilo mais daquilo, um grilo menos disso…”

Queremos viver a carnavalização, fazer movimentos, e voltar a sonhar. E que esses sonhos se eternizarem na esperança da mulher assumir espaços no Parlamento onde terão condições de gerir leis que possam contribuir com o debate de gênero e de trabalho e renda.
Nosso olhar alcançou as lutas das outras mulheres, tivemos no Brasil no bojo das eleições de 2018, o #elenão, que foi uma manifestação que nos colocava no centro das discussões e nos colocava presentes pela luta de nossos direitos e, recentemente, o protesto das chilenas que transpassou ou muros do país e atingiu o mundo todo com coreografias [o corpo que fala no silêncio da voz].
E no nosso cotidiano, será carnaval [a grande festa], quando conseguirmos ampliar a voz das mulheres no campo do sindicalismo, tornando-as presentes como diretoras ou como protagonistas das decisões da categoria e nas eleições e participações das Cipas (Comissões Internas de Prevenção de Acidentes) que têm ações importantes na saúde e segurança da trabalhadora e do trabalhador.
Seguiremos com unidade, buscando a equidade, e na voz o grito de liberdade e no corpo a marca do amor e da alegria e vamos, sim, colocar o bloco na rua.

“É disso que eu preciso ou não é nada disso, Eu quero é todo mundo nesse carnaval”

[Informações coletadas do site oficial da FUP]