Os petroleiros da Refinaria Landulpho Alves (Rlam) entram nesta segunda-feira, 15, no 11º dia de greve, cobrando condições seguras de trabalho, manutenção dos empregos e dos direitos que estão ameaçados pela venda da unidade para o fundo de investimetos árabe Mubadala. Além da Rlam, outras bases da FUP estão mobilizadas, denunciando os impactos das privatizações nas condições de trabalho e segurança. São elas a Refinaria de Manaus (Reman), as unidades da Petrobrás no Espírito Santo e as bases operacionais representadas pelo Sindipetro Unificado de São Paulo.
Na Bahia, a greve conta com a participação dos trabalhadores dos campos de produção terrestre e do Terminal de Madre de Deus (Temadre), cujos trabalhadores também foram impactados pelas vendas de ativos e pelo desmonte da Petrobrás no estado. Na manhã desta segunda-feira, 15, houve mobilização nas bases de produção de Candeias (OP-CAN/EVF/UPGN), no Temadre e na Rlam.
Outras bases da FUP que aprovaram a greve devem fortalecer o movimento nos próximos dias. Estão sendo feitos atrasos desde a semana passada nos turnos da Regap, em Minas Gerais, da Refinaria Abreu e Lima e do Terminal Aquaviário de Suape, em Pernambuco. No Paraná, a greve também foi aprovada na Usina de Xisto (SIX), onde os trabalhadores estão se organizando para somarem-se às mobilizações.
A defesa da vida é um dos principais eixos da greve. Em meio ao maior desmonte da história do Sistema Petrobrás, com diversas unidades já privatizadas e fechadas e outras tantas em processo de venda, os petroleiros enfrentam graves ataques no ambiente de trabalho, além da insegurança causada pela pandemia. Vários trabalhadores estão esgotados, física e psicologicamente. Sem diálogo com os sindicatos, as gerências submetem a categoria a jornadas exaustivas e a multifunções, seja no trabalho presencial ou remoto, paralelamente às transferências compulsórias e ao descumprimento do Acordo Coletivo.
Assim como o governo Bolsonaro, a gestão Castello Branco vem negando recomendações, normas e protocolos de segurança dos órgãos de saúde e de fiscalização para prevenir de forma eficaz o avanço da pandemia da Covid-19 na Petrobras. Mais de 11% dos trabalhadores da Petrobrás já se contaminaram. Isso equivale ao dobro da média nacional. A cada semana, são mais de 400 trabalhadores infectados e uma média de 20 hospitalizados. Esses números, apesar de altos, são subnotificados, pois a Petrobrás insiste em não divulgar os dados dos trabalhadores terceirizados. Em meio às privatizações, a categoria petroleira ainda é obrigada a conviver com o pavor de ser contaminada pelos surtos semanais que estão ocorrendo nas plataformas, refinarias e terminais. Informações obtidas pela FUP revelam que mais de 60 trabalhadores próprios e terceirizados já perderam a vida em consequência da Covid.
Pandemia de absurdos
No domingo, uma semana após a morte do operador da Rlam, Carlo Alberto, por complicações geradas pela Covid, mais um trabalhador da refinaria faleceu após ser infectado. Wagner Plech, de 52 anos, era técnico de operação e coordenador de turno, com 35 anos de trabalho na Petrobrás, dois filhos e esposa. “Essas mortes são fruto da incompetência administrativa e gerencial da Petrobrás na Rlam, que não tem adotado as medidas necessárias para preservar a vida dos trabalhadores próprios e terceirizados, apesar de toda cobrança que vem sendo feita pela direção do sindicato”, afirma Radiovaldo Costa, diretor Sindipetro Bahia, informando que a entidade irá processar o Gerente Geral da Rlam para que seja responsabilizado civil e criminalmente por expor a vida dos trabalhadores em risco.
A Rlam é uma das unidades do Sistema Petrobrás que vem sendo afetada pela negligência da direção da empresa no combate à pandemia. Nas últimas semanas, foram relatados surtos de Covid com mais de 80 trabalhadores contaminados na refinaria. Ainda assim, a gerência chegou a insistir em manter as paradas de manutenção que colocariam em risco mais de 2 mil trabalhadores aglomerados na unidade. Só após o início da greve, é que a a gestão da Petrobrás resolveu suspender o início das paradas na Rlam.
Na Refinaria Gabriel Passos (Regap), em Minas Gerais, o Sindipetro também denunciou a ocorrência de surtos de Covid entre os trabalhadores. “Um dos setores atingidos é o DH com oito casos confirmados. Outro setor sob atenção é o Coque, com sete casos. A situação é preocupante, uma vez que este cenário deve se agravar nos setores que estão em parada de manutenção, como o Coque. Além disso, vale lembrar que os trabalhadores da parada e os da refinaria estão compartilhando o mesmo transporte, o que pode favorecer o contágio. Para piorar a situação, há gerentes setoriais que não direcionam os trabalhadores com suspeita para avaliação médica, autorizando pessoas que podem estar com Covid-19 a trabalhar sem a devida triagem”, alerta o Sindipetro-MG.
Apesar da gravidade do problema, a gestão da Regap se nega a atender as reivindicações dos trabalhadores, que aprovaram greve por tempo indeterminado e ameaçam parar as atividades se a Petrobrás não garantir o atendimento da pauta da categoria. “Cobramos respostas imediatas da empresa sobre outros temas importantes para a categoria, como a falta de efetivo, a redução do número mínimo e, principalmente, a falta de condições seguras para a realização da Parada de Manutenção no pior momento da pandemia no Brasil. Já são 15 casos confirmados na operação em 2 semanas, inclusive envolvendo pessoas que estiveram em um mesmo refeitório. Já temos casos de companheiros contaminados que não conseguiram se internar, por falta de leitos em BH. Não iremos aceitar que coloquem o lucro acima da vida da categoria”, afirma Alexandre Finamori, coordenador do Sindipetro-MG.
[Da imprensa da FUP]
Publicado em Sistema Petrobrás
Fonte: FUP