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Relatório de investigação para “acionista ver”

Acabou a investigação sobre o incêndio da U-1210 (Destilação Atmosférica e a Vácuo para Combustíveis) no dia 15/06/2020. Concluíram que a causa NÃO É por:

  • Má gestão (em qualquer nível) na refinaria;
  • Falhas da Inspeção de Equipamentos (IE);
  • Falha operacional;
  • Falha da engenharia (de otimização ou acompanhamento).

E como não tem causa e a culpa não é de ninguém… a destilação voltou a operar em apenas uma semana em plena carga depois do incêndio que instaurou pânico geral dentro e fora da refinaria.

Vamos aos fatos

A coordenação do grupo de trabalho de investigação criou um mundo de faz de conta para sair bem na foto na hora de apresentar o relatório investigativo aos acionistas e se concentrou em um único culpado – o isométrico* original de 1985 que estava desatualizado e que caracterizava o sistema com as seguintes variáveis de processo: T=95°C e p=7 Kgf/cm2, além do material da linha que explodiu – que deveria ser feita de um aço liga com mais resistência a severidade de um processo com altas temperaturas, pressão e sulfatarão gasosa rigorosa – ser simples aço carbono.

*documento detalhado do trecho de linha que explodiu por baixa espessura

Essa tubulação que originou o incêndio  nunca operou sob as condições constantes nesse tal isométrico. As variáveis reais do sistema são T=350°C e p>17 Kgf/cm2, mas todas as gerências tiraram o corpo fora sobre o erro.

Ninguém quis assumir a culpa e isso inclui a gerência de inspeção de equipamentos (IE) que, como se fosse um marido traído, se diz enganada por 35 anos – se prendendo a um isométrico esquecido e avaliando, ano após ano, a linha de 6″ com referências erradas. Deixou a tubulação “afinar” de uma espessura nominal de 11 mm para 1 mm (15/06/2020).

Nesse limite a linha não aguentou e se rompeu, criando mais uma armadilha para os trabalhadores.

Por sorte ninguém ficou ferido, mas foram mais de 45 min de inferno para todos na área, e principalmente para os técnicos de operação, brigadistas e bombeiros que estavam ali a 20 metros da casa de controle local atuando brilhantemente mas com muita dificuldade pelas sucessivas baixas de efetivo por conta da implementação de uma “metodologia” de cálculo de efetivo chamado O&M (carinhosamente apelidado de Organização e Mentiras).

Isso, somado a vários PIDVs sem reposição de efetivo por concurso público, é uma combinação explosiva e os trabalhadores da REDUC sabem bem disso.

Não é de hoje que estamos apagando fogo, não é de hoje que arriscamos as nossas vidas em troca do sustento das nossas famílias.

O relatório da gerência IGNORA os testemunhos dos trabalhadores do turno que revelaram grande dificuldade de atuação para isolar a unidade e tentar conter o vazamento, que revelaram dificuldade de combate ao incêndio….enfim, o relatório da gerência ignora solenemente relatos ricos que mostram que a redução do efetivo precarizou a função dos operadores, impactou negativamente a brigada de incêndio e aumentou significativamente as tarefas dos turneiros gerando sobrecarga e dificultando a atuação em momentos críticos como esse.

O aumento de efetivo é primordial para garantir a segurança operacional. Segurança não só de equipamentos e processos, mas também e principalmente, de vidas humanas.

Nós aqui vendemos nossa força de trabalho, não as nossas vidas!

Filho feio não tem pai

A coordenação do GT junto com a gerência da refinaria vai mostrar aos grandes acionistas que a REDUC tá ótima, vai muito bem obrigada… e a falha foi do isométrico de 1985 sem dono.

Ninguém assume a responsabilidade pelas as atualizações de documentos de referência – como este velho papel de 35 anos.

A REDUC é uma refinaria antiga, desatualizada e falhas de projeto, documentos desatualizados e revamps não registrados são comuns por aqui.

“Ser comum” no caso se refere a frequência de acontecimento, mas nunca deve ser encarado com normalidade. A situação não é normal. E não é nova.

Já somamos inúmeras ocorrências de acidentes por falta de correção no arquivo geral da refinaria e as recomendações dos GTs passados sempre pedindo um “pente fino” em todos os documentos da empresa têm sido sumariamente ignorados ao longo dos anos.

Até que tenhamos mais um sacrifício em nome do Deus mercado…

Trabalhadores quase morreram neste incêndio e se houvesse vítimas adivinha quem seria o culpado? O papel de 1985 sem responsáveis ou o próprio trabalhador que morreu ou ficou ferido.

Os gestores não aprendem com o passado.

Lembramos que o filho do companheiro Cabral assassinado pelos gestores da época (2016) esta até hoje pedindo reparação por danos morais na justiça e os advogados da empresa respondem aos juízes que a culpa foi do Cabral mesmo diante de vários relatórios técnicos como do MTE e ANP atestando erro e fraude dos documentos de inspeção.

Tentativa de censura

Gostaríamos de deixar claro – se já não está – que o Sindipetro Caxias não assinou o relatório que resultou do trabalho do GT da empresa acerca do incêndio que ocorreu na U-1210 pois vários pontos debatidos na reunião foram maquiados e ignorados nos 15 dias de investigação. Nenhuma causa relevante foi apontada, nenhum processo gerencial foi revisto, nenhum gestor culpado pela negligência….

Também não nos curvamos a tentativa de intimidação e assédio gerencial, não assinamos o “Termo de Confidencialidade” que nada mais era do que uma tentativa de colocar  uma mordaça visando calar o sindicato por 20 anos sobre este acidente.

A legítima representação dos trabalhadores sempre se comportará nestes grupos investigativos em defesa do trabalhador, da saúde e da segurança, pois quando um petroleiro se envolve em um acidente não faltam dedos de gerente para apontar e punir o peão mas quando o acidente é falha gerencial as investigações são manipuladas ao bel prazer dos chefes para ficar bem bonito aos seus superiores e acionistas.

Ataques as práticas históricas dos representantes dos trabalhadores

Uma prática histórica conquistada pelo sindicato nos GTs de investigação em nossa base é deixar uma ressalva, mesmo diante da não assinatura do relatório por não concordar com a sua conclusão.

Todavia dessa vez fomos golpeado pelo líder do grupo e os gerentes da refinaria que afirmaram que iriam tirar do relatório para não evidenciar suas irresponsabilidades.

Mas não tem problema: colocaremos aqui para os trabalhadores pois o sindicato expõe o relatório sem rabo preso.

RESSALVAS DO SINDICATO – NÃO ASSINATURA DO RELATÓRIO

1. O documento (Isométrico) não teve atualização da gestão da companhia desde 1985. São 35 anos de não observância do documento, mostrando total descomprometimento na continuidade do sistema de gestão de qualidade dos processos das unidades operacionais da REDUC. Afinal se morresse um trabalhador e quase aconteceu isso, o culpado seria um papel?, apenas o isométrico?

Não há no relatório menção de responsabilidade sobre o incêndio.

2. Há dúvidas na qualidade de gestão da Inspeção de equipamentos, pois demonstrou-se ineficaz em analisar e detectar a baixa espessura da linha que estourou. A aferição em apenas pontos de curva de linhas e não trechos como um todo, levou a falta de avaliação da linha de 6’’ de aço carbono com uma espessura de 1mm detectada apenas depois do incêndio. O programa API 574 não foi o suficiente detectada apenas depois do incêndio. O programa API 574 não foi o suficiente para detectar o desgaste desta linha, mesmo se inserisse dados corretos de 1985, sugerimos mais recursos tecnológicos para cercar de cuidados nas avaliações de espessura em toda REDUC. Falhas de projeto isométrico são recorrente no sistema PETROBRÁS, não se pode dizer que esse acidente foi um caso único de desatualização de projetos isométricos. Basta buscar nos últimos 5 anos os relatórios de acidentes ocorridos na REDUC. A tabela apresentada neste relatório do lado da figura 23 mostra que no ano de 2010 a 2016, 6 anos total, ocorreu uma taxa de corrosão em média de 0,4mm/ano e entre 2016 a 2020 essa taxa diminui em 0,1mm/ano gerando dúvidas na gestão de inspeção de equipamentos, não explicando essa mudança na taxa média de corrosão mesmo com os recursos utilizados pela inspeção gerando dúvidas na forma de avaliação da gestão de inspeção de equipamentos.

3. Este relatório ignora completamente os relatos dos técnicos de operação e os técnicos de segurança industrial que se envolveram no incêndio da unidade U-1210. Os trabalhadores relataram uma grande dificuldade de isolar operacionalmente a unidade por falta de efetivo onde antes de 2017 havia 3 operadores da área e desde então são 2 operadores de área para atuar em momento de emergência e instabilidades operacionais sobrecarregando estes profissionais. Estes mesmos não conseguiram fechar a válvula do fundo da T-103, 16’’ polegadas no momento do incêndio mostrando a urgência de mais um profissional. Com sorte um supervisor estava próximo a unidade e tinha conhecimento operacional da U-1210, mas este não conta como número mínimo de segurança na operação de turno. A unidade U-1210 é antiga e seus trabalhos operacionais de área são puramente braçais na atuação de centenas de válvulas de grandes polegadas exigindo de fato mais operadores na área operacional e este incêndio evidenciou essa necessidade. Reforçamos a recomendação deste relatório para o aumento do efetivo não só nessa unidade operacional como avaliação do aumento do efetivo em toda REDUC. Pois esta dificuldade nas manobras operacionais surge em emergências e instabilidades dos processos que acontecem esporadicamente todo ano. Os técnicos de segurança industrial relataram a esse grupo de trabalho dificuldades em relação ao combate ao fogo da unidade U-1210. Estes profissionais tiveram também desde 2017 uma redução de efetivo necessitando de uma avaliação por parte dos gestores para o aumento de trabalhadores neste setor e assim garantir para futuras emergências uma segurança maior no combate a vazamentos e incêndios.

4. Não há neste relatório, recomendações de substituição das válvulas com atuação por corrente. Elas são ilegais, ineficazes e perigosas para operação, já ocorreram acidentes de queda do conjunto, carretel mais corrente, em cima dos técnicos de operação.

5. O relatório menciona textualmente de forma sutil o que ocorreu na linha. O que ocorreu foi uma linha de 6’’ que ESTOUROU e não apenas um simples “fissura” seguida de vazamento. O sindicato retrata que houve um grande estouro por conta da baixa espessura da linha, vazamento em um furo com raio de mais de 5 cm no período de mais de 30 minutos com chamas acima de 25 m de altura, cobrindo a torre T-103.

6. O prazo para modernização da unidade com válvulas motorizadas está muito longo (ano de 2023 para implementação) necessitando urgentemente do aumento de efetivo nesta unidade.

Clique aqui e veja o relatório com mais detalhes